Continuando na saga das câmaras antigas de colecção hoje proponho uma visita ao Centro Português de Fotografia (instalado na antiga Cadeia da Relação do Porto) onde, além de várias exposições de reconhecidos fotógrafos (actualmente em exposição, entre outras, o percurso pelo Afeganistão de João Silva) está patente uma interessante exposição de câmaras fotográficas abrangendo modelos do séc. XIX até aos mais recentes tempos.
Esta exposição, que pode ser visitada gratuitamente... sim, algo pouco comum nos dias que correm... mas é verdade, desafia o visitante a descobrir a história através da evolução das máquinas fotográficas ao longo dos tempos.
Nem sempre as câmaras que julgamos, pela sua aparência, ser as mais antigas o são na realidade! Nesta mostra, encontram-se dispostas nos expositores por "tipos" e não por sequência cronológica. Isso faz com que estejam "misturadas" câmaras do mesmo tipo, por exemplo, 35mm, ou câmaras de "campo" mas de épocas diversas.
Uma das "falhas" que encontrei tem a ver com a reduzida informação acerca destas peças do passado. Na verdade, só um pequeno cartaz em cada expositor faz uma breve alusão ao tipo de máquinas que ali se podem ver.
Um dos aspectos, que penso serem importantes de referir, tem a ver com as especificações da câmara (qual o tipo de rolo ou tamanho de placa que utilizavam, qual o obturador, qual a objectiva, etc.), aspectos esses que não constam na grande maioria das câmaras expostas. Há somente a breve menção ao fabricante (marca), ao modelo e aos anos de construção do mesmo....
Bom, mas não querendo substituir uma atenta visita, vou mostrar algumas das máquinas que por lá podem ser vistas...
Ao lado:
Uma das maiores câmaras fotográficas do mundo! É realmente enorme! Nem imagino quanto possa pesar mas, a atender aos suportes e carris de ferro onde a mesma é operada...Trata-se duma das várias máquinas produzidas em Inglaterra pela firma "Hunter-Penrose, Ldº". Esta é a primeira peça, desta exposição, que podemos observar logo ao subir os primeiros lances de escadas e ainda antes de chegar ao 3º piso, sala onde se encontra concentrada a maior parte das câmaras de colecção.Esta é uma das poucas câmaras que não se encontra dentro de expositores de vidro. No entanto, está localizada num local de diminuta iluminação o que dificulta a intenção de fotografá-la...
À direita:
Uma outra câmara que, de igual modo, não escapou a uma fotografia foi a máquina fotográfica de estúdio (penso que) pertencente à firma Alvão & Cia. Ldª, em cujos laboratórios perdi de conta os rolos fotográficos que entreguei para revelação e impressão.... Ou seja, esta, além do valor como peça museológica relembrou-me velhos tempos da firma a que pertenceu!
Inteiramente dedicada às máquinas fotográficas construídas em madeira, a sala onde estão expostas as chamadas "câmaras de campo", apesar de pequena vale bem a visita! Hã!! Esqueci-me de referir que as câmaras (expostas em vitrinas) estão "espalhadas" por diversas salas de acordo com a sua tipologia. Assim, existe uma sala para as câmaras de "35mm"; uma para as câmaras "miniatura"; uma para as "Kodak"; uma para as Zeiss; ...
Em baixo: 4 exemplos de "câmaras de campo" construídas entre os anos de 1845 a 1900
No CPF é permitido captar fotografias a todo o espaço, incluindo às câmaras expostas sem qualquer restrição. A única excepção, óbvia, reside na proibição de fotografar directamente (em plano único) as fotografias dos autores cujo trabalhos se encontram em exposição.
Bom, acontece que como já referi, salvo raras excepções, designadamente no que toca a câmaras de maiores dimensões, todas as máquinas estão colocadas em vitrinas idênticas à da fotografia do início deste post.
Ora fotografar objectos por entre vidros é complicado...
Já agora, para quem tiver ideias de fotografar nestas condições, aqui ficam algumas dicas para minorar o efeito dos indesejados reflexos nos vidros e conseguir as melhores fotografias possíveis:
- Usar flash directo está completamente fora de questão!
- A melhor maneira para fotografar nestas condições será escolher a objectiva mais luminosa que tiverem e seleccionar a maior abertura da mesma ou, no caso de ser uma objectiva muito luminosa (f/1.4 ou f/1.8) seleccionar um ou 2 f/stops acima da abertura máxima para não reduzir em demasia a profundidade de campo.
- Outro "truque" bem simples consiste na correcta colocação da câmara em relação ao vidro. Dependendo da incidência de luz, escolher uma posição subtilmente obliqua em vez duma completamente frontal ajuda a evitar reflexos no vidro do expositor aumentando o contraste geral.
- Devido à pouca luz ambiente, para não correr o risco de ficar com "fotos tremidas" não deve ser esquecido o princípio de distância focal = velocidade de obturação. Ou seja, caso seja usada, por exemplo, uma objectiva de 60mm a velocidade de obturação deverá ser de 1/60 seg. ou mais rápida.
- Por último, neste caso concreto, uma vez que a iluminação artificial deste espaço é composta por lâmpadas tipo florescente (com uma temperatura de cor próxima da luz do dia) e é complementada por luz natural não existe grande necessidade de regulação de equilíbrio de brancos
Mas ainda há mais para ver... que tal estes magníficos exemplos de câmaras de estúdio de grande formato?
Crow Graphic HTH - Super Techna Hengelo
Claro que nestas coisas de coleccionismo existem sempre preferências.
Pessoalmente, gosto imenso das câmaras construídas em madeira e, entre as várias que me prenderam a atenção, houve contudo duas que se destacaram:
Uma delas (à esquerda) é uma curiosidade (pelos menos para mim). Nada mais, nada menos que uma antiga câmara de construção em madeira "Detective Steinheil Camera", datada de 1888, fabricada em Munique - Alemanha que, com pena minha, não deu para fotografar melhor...
... e esta lindíssima e pouco vulgar "No. 3 Folding Pocket Kodak"!
(Embora não esteja completamente identificada no C.P.F., penso que se trata do "Modelo B-2" destas câmaras da série 3A.... possuo uma do modelo anterior: (B) de 1903/4 e em breve reservarei um artigo para falar sobre a mesma)
Esta última está patente na "sala das Kodak" e ressalta de todas as outras por dois motivos: Primeiro pelas suas enormes dimensões e depois pela cor avermelhada do grande fole!
Estas câmaras da série "3A", tiveram sete diferentes modelos e foram produzidas pela Easteman Kodak Comapany nos USA, entre os anos de 1901 a 1914.
A propósito foi com pena que no dia em que escrevo este artigo (6/02/2012) tenha sido anunciado o fim desta firma nos USA por não ter conseguido resistir e acompanhar a evolução das câmaras digitais... Curiosamente foi a primeira marca a tentar implementar a tecnologia digital a câmaras SLR de gama profissional. Após várias fases, iniciadas em 1990, viria a lançar em 1999 a "monstruosa" Kodak PRO DCS 620 baseada no corpo da então Nikon F5. Enfim, mas lá estou a divagar e a avançar demais no tempo...
Depois de tudo bem visto, caso ainda haja tempo, existe ainda a oportunidade de visitar as exposições de fotografia que decorrem. Actualmente, como indiquei no início, “Afeganistão” de João Silva; “Habitar a Escuridão” de Marco Cruz; “Novos Valores da Fotografia Espanhola” - Vários autores e “Fotografias que falam por si” de Juantxu Rodríguez.
Em baixo: uma pequena amostra dos espaços
Em baixo: uma pequena amostra dos espaços
Provavelmente, esta será a derradeira oportunidade de ver no nosso país tamanha quantidade de máquinas fotográficas juntas... Pela parte que me toca, acho que vale a pena uma (ou mais...) visitas a esta exposição que se encontra aberta ao público durante quase todos os dias.
É só confirmarem os diversos horários!
É só confirmarem os diversos horários!
3 comentários:
É sempre mais um motivo para visitar tão belo edifício!
Olá! Bom dia!
Gostei muito deste seu artigo. Que paixão esta pelas velhas máquinas fotográficas... Eu sofro da mesma "doença"!!
Gostava de saber se esse local ainda se encontra aberto ao publico em 2013 pois quando for aí de férias tenho de o visitar. Já agora onde se situa e se pode obter mais informação.
Jà agora, se me permite, gostaria de acrescentar às suas "dicas" de como evitar reflexos: O filtro polarizador circular(trago-o sempre comigo!)um optimo video aqui:(http://www.youtube.com/watch?v=eQo6VNA_Z7Q&feature=related), o uso (se possível) do sistema VR e o de um mono-pé. Se não o poder utilizar, tentar então, procurar pontos de apoio para evitar o natural tremor das mãos: pilares, paredes, mobiliário, até mesmo a própria vitrina!(desde que ninguém nos impeça, não sujemos ou partamos nada!!). Já consegui bons resultados a 1/15seg. a 800 ISO em condições do tipo "à luz da vela" utilizando uma Zoom 16~85mm a diversas focais, com aberturas de f3.5, 4 e 5.6. Cordialmente.
Tanto quanto sei, continuará sim.
Penso que a exposição tem carácter permanente.
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