Fotografia de Estúdio: Alguns conceitos, considerações... e dicas!


Narciso (Narcissus calcicola)
Nikon D300 + Micro Nikkor 60mm f/2.8
@ f/8, 1/10 seg., ISO 200, medição pontual


A propósito da imagem deste "Narciso", fotografado em Estúdio, lembrei-me hoje de "divagar" e abordar algumas dicas acerca do tema...
Uma das maiores dificuldades da "Fotografia de estúdio" reside no correcto uso da iluminação. Aparentemente, pode parecer fácil conseguir de imediato bons resultados dada a panóplia de opções/combinações de projectores, difusores, etc., bem como das diferentes "potências" de iluminação contínua que podemos dispor.
Na verdade, não é assim. Nem sempre "quantidade" é sinónimo de "qualidade" e também neste caso esse princípio é integralmente válido!
Para conseguir imagens com alguma "força" há que conseguir, caso a caso, dominar a adequada iluminação e contrastes. O caso deste pequeno Narciso é um bom exemplo disso. Fotografado no seu ambiente natural jamais se conseguiria (sem posterior edição) uma imagem tão isolada e destacada do fundo. Em estúdio, foi possível fotografar com detalhe e concentrar toda a atenção somente nesta pequena flor. Não existe mais nenhum elemento disperso na imagem!

Todos os objectos, em função da sua composição e da sua cor, reflectem a luz de maneira diferente. Este aspecto afecta ainda mais os resultados quando o mesmo objecto engloba distintos materiais e diversas cores. Os graus de reflexão podem ser tão diferentes que para expor correctamente uma parte do objecto, uma outra ficará completamente "estourada" ou, pelo contrário, sub-exposta.
Portanto, a simples incidência de muita luz não resolve o problema...
A "Fotografia de estúdio" implica uma reflectida preparação antes da captura, designadamente em relação à iluminação, pois pressupõe resultados cuidados no que toca ao detalhe e pormenor.
Como exemplo, podem observar a imagem abaixo. No Histograma são comparados os resultados de duas fotografias captadas em estúdio. A primeira (correspondendo à imagem final que é ilustrada no topo deste artigo) foi captada com recurso a uma "caixa de luz" verticalmente colocada sobre a flor; dois pequenos projectores laterais (revestidos a papel cavalinho de cor branca) direccionados indirectamente e duas "placas" de cartão-maquete "K-line" branco de modo a reflectirem suavemente a luz em direcção à flor. Só com uma iluminação suave e uniformemente distribuída é que é possível captar a textura e os detalhes das "nervuras" das pétalas do Narciso.
No segundo exemplo, podemos ver o que acontece quando pura e simplesmente recorremos à utilização, sem mais, dum Flash (neste caso um SB-900) em modo directo i-TTL montado na câmara...
Enfim, os resultados são pouco apelativos... Com se verifica no histograma, as pétalas ficam sobre-expostas uma vez que a câmara (mesmo usando, como foi o caso, a medição pontual nas pétalas) tende a compensar o negro do plano de fundo. Por seu turno, também este, contrariamente ao que deveria, não fica correctamente exposto e, em vez de ser negro, é dum tom acinzentado escuro.





No entanto, fotografar em estúdio pressupõe uma adequação a cada uma das situações, motivos ou objectos que fotografámos. Por vezes recorre-se a utensílios pouco ortodoxos e que nada têm a ver com fotografia... pincéis (para limpeza do que pretendemos fotografar); papeis/cartões de diversas cores e texturas (para criar reflexão indirecta ou "colorir" a luz, etc., etc.... mas são precisamente essas "invenções" que nos permitem alcançar os resultados que pretendemos!






 Algumas dicas:  


Ao fotografar objectos/produtos "em estúdio", os dois factores mais importantes são o controle da iluminação e a escolha do plano de fundo certo.
A principal função da iluminação de estúdio consiste numa correcta projecção e difusão da mesma.
Uma iluminação "bruta" ou pontual, além de criar fortes contrastes, tornar-se-á insuficiente para a correcta exposição de certos pontos do objecto que fotografámos. Não quer isto dizer que este tipo de iluminação não seja "correcta" mas sim que apenas servirá para certos e específicos casos em que pretendemos criar sobras duras ou fortes contrastes.
Na iluminação de estúdio não existe uma "norma" estandardizada. Cada caso é um caso. Cada objecto, cada situação, tem de ser estudada adaptando-se a iluminação em consonância.
Um dos melhores métodos que conheço para "acertar" com os resultados que pretendemos continua a ser o método de tentativa e erro. Além de, como acima já referi, cada objecto possuir as suas próprias características reflectoras temos ainda de ter em conta que nem sempre o efeito final pretendido é o mesmo para todos os casos...
Logo à partida, o modo de iluminação que empregámos faz variar os resultados.

 Tipos de iluminação de estúdio:  

Iluminação Directa e Iluminação Difusa

Enquanto que uma iluminação directa criará grandes contrastes e sombras profundas, por outro lado, uma iluminação difusa permitirá uma iluminação mais homogénea e controlada. Este segundo tipo de iluminação é obtido a partir de difusores e reflectores estrategicamente colocados.

Além disso, a própria distância a que se colocam as fontes de luz acabam por influenciar as sombras.
Associando uma iluminação difusa a um plano de fundo em forma de "S" facilmente eliminámos a "linha do horizonte". Esta é uma maneira simples e eficaz para fotografar objectos que queiramos destacar do mesmo.

Quanto a equipamento, as "Softbox" (também conhecidas por "Caixas de luz" ou "Janelas de luz", conforme lhe queiram chamar) são excelentes difusoras de luz!
Projectores revestidos (com tecido ou mesmo papel - atenção às temperaturas para não provocar incêndios..), também poderão ser bons modos de difusão de luz. Outra alternativa é a de projectar a luz emanada dos mesmos numa parede branca ou um reflector (ou, ainda, numa simples cartolina de cor branca). Qualquer uma destas formas transformará a iluminação "dura" dos projectores numa iluminação "mais suavizada".
Além disso, existem as tradicionais "Sombrinhas" reflectoras. Um equipamento acessível que proporciona uma boa difusão de luz. Existem em vários tamanhos e tipos, desde as opacas (revestidas a cor dourada - para criar tonalidades quentes - ou prateadas) que reflectem a luz num só sentido (retorno) e as translúcidas que, além de reflectirem de forma muito suave a luz permitem a passagem de parte da luz recebida. Podem, por isso, também ser usadas como filtro difusor no caso de serem viradas directamente para o objecto.

Resumindo o que até aqui disse, a fotografia de estúdio vive muito da improvisação!
Soluções simples, mas engenhosas, permitirão resultados melhores do que o recurso a melhor equipamento!
Acreditem que, muitas vezes, uma simples folha de papel branco usada para reflectir, difundir ou moldar a luz é mais útil que o melhor dos projectores!

 Objectos brilhantes  


De todos os objectos que podemos fotografar em Estúdio os mais problemáticos são os compostos por material de vidro ou metal dadas as características reflectoras desses materiais!
Se, além disso, as suas formas forem curvas, ainda pior... A solução para fotografar objectos deste tipo consiste em difundir ao máximo a luz. Tendas de Luz, Sombrinhas ou mesmo luz através de acrílicos translúcidos são geralmente uma boa solução.

 Tipos de plano de fundo 


A fotografia de objectos ou produtos em "Estúdio" não se resume somente a iluminação... Outro aspecto que em muito contribui para um bom resultado passa pela escolha dum adequado "Plano de fundo". A seguir menciono os mais comuns (pelo menos são estes os que mais utilizo):



  • Lisos - Os dois mais usuais são os de cor preta e os brancos. O preto é o ideal para criar contrastes e isolar o objecto. Por sua vez, o branco torna-se útil para recortar e destacar o objecto. Quanto ao material, quer em tecido, designadamente em veludo, quer em cartolina lisa são os Planos de fundo mais uniformes que se encontram. De igual modo, fundos em material acrílico (de cores diversas) porporcionam fundos lisos.




  • Texturados - Por exemplo, de papel que podemos facilmente adquirir em qualquer superfície comercial sob várias cores. Destaco o papel "Craft" e o "Crepe". Também tecidos coloridos e texturados podem dar bons resultados desde que, pelas suas cores ou texturas, permitam destacar o objecto do fundo (Exemplo: Câmara fotográfica Kodak ilustrada na imagem ligeiramente ao lado e acima).




  • Vidro - Este é um fundo óptimo para criar reflexos espelhando o próprio objecto fotografado (Exemplo ao lado : Fotografia do Flash Nikon SB-26).




  • Temáticos - Constituídos por qualquer elemento que permita servir de fundo e, ao mesmo tempo, criar um ligação temática com o que fotografámos. Madeiras, tecidos, etc... (Ao lado: Exemplo dum destes fundos temáticos que usei para fotografar um conjunto de equipamentos necessários aos pilotos para planeamento de viagens aéreas - um Mapa. A fotografia destinou-se a ilustrar um artigo publicado numa revista da especialidade).
    Ainda acerca desta fotografia, uma curiosidade:
    Após várias tentativas, a melhor “solução” de iluminação para fotografar este conjunto de objectos foi conseguida através da simples colocação do mapa/plano de fundo sobre uma mesa de vidro. Por baixo, uma lâmpada incandescente serviu de retro-iluminação de modo a realçar os tons quentes.

 Recorte Digital  




Complementarmente a todos os fundos que possamos usar existe ainda a possibilidade de, em posterior Edição Digital, recortar o objecto de todo o restante cenário criando uma total ausência de fundo. Esse é um dos métodos que utilizo frequentemente como se pode ver no exemplo (ao lado) da Mesa digitalizadora Wacom Bamboo (...já agora, Mesa essa que serve, entre outras coisas, como ferramenta para tornar mais preciso e simples o processo de recorte digital).

3 comentários:

Anónimo disse...

Sempre que aqui venho, fico grato.
Mais uma aula com bastante interesse.
Votos de um Bom Natal.

Felipe Xavier disse...

Excelente artigo, como muitos do blog.

Uma dúvida, o uso de um filtro polarizador também é aconselhável para fotos em estúdio? Por exemplo, se eu não possuo uma softbox e tenho que fazer uma foto de um objeto que reflete muito a luz, uma garrafa, conseguirei resultados um pouco mais satisfatórios com ele?

José Loureiro disse...

Felipe,
Pode, sim, utilizar filtro polarizador. Contudo, é sempre melhor evitar os reflexos antes de fotografar do que depois deles existirem estar a tentar reduzi-los. A luz típica da Softbox pode ser, em certos casos, ser substituída por uma iluminação difusa. Usando indirectamente o clarão dum flash (ou mesmo dum foco) projectado contra uma superfície branca ou parede. Neste caso, a luz não incidirá directamente no vidro mas será projectada indirectamente de forma difusa. Outro “truque” consiste na utilização de um material de plástico opaco colocado entre o objecto e a fonte de iluminação. Uma folha de PVC ou mesmo uma embalagem plástica de detergente (ou algo parecido…) podem resolver o problema!