Ultimamente, com alguma insistência, tenho referido nalguns artigos que devemos evitar utilizar valores extremos de aberturas de diafragma, designadamente, aberturas de diafragma muito pequenas.
Pois bem, todos sabemos de maneira intuitiva que a qualidade óptica das objectivas não é igual, nem o seu comportamento é constante.
Independentemente da marca e da qualidade geral duma determinada objectiva, certo é que a sua qualidade óptica varia consoante as aberturas de diafragma utilizadas.
Outro dado que por experiência sabemos é que as objectivas alcançam os melhores resultados, em termos de nitidez de imagem, nas suas aberturas de diafragma intermédias.
Tudo isto é fácil de constatar pela leitura de testes gráficos de resolução mas certamente muitos pensarão que essas diferenças pouco importam na aplicação prática "no terreno" e numa utilização "normal". Nada mais errado!
Na sequência dum pedido de análise dumas fotografias que em tempos recebi por parte dum leitor preocupado com a falta de nitidez que apresentavam as suas fotografias, decidi fazer este artigo demonstrativo daquilo que tenho tentado dizer. Ou seja, o motivo porque devemos evitar utilizar aberturas de diafragma muito pequenas desnecessariamente!
Penso que a análise das imagens (crop´s a 100%) chegará, por si só, para compreender os efeitos deste fenómeno que afecta a qualidade das nossas fotografias (falta de nitidez) denominado "Difracção".
Para que não hajam mal entendidos diga-se, desde já, que este fenómeno é transversal a todas as objectivas! Não se trata dum "mal" exclusivo das objectivas mais "baratas", de menor qualidade óptica, nem de casos de avaria. Claro que nem todas as objectivas o apresentam no mesmo grau ou maneira. Existem objectivas que, por exemplo, a partir dos f/16 revelam uma difracção muito elevada e outras cujo "problema" só se revela (e de maneira pouco severa) a partir dos f/22. Portanto, este é um fenómeno intrínseco a todas as objectivas e que cada um deve, caso a caso, testar e verificar quais os limites aceitáveis.
Sendo uma observação de carácter pessoal, a minha experiência diz-me que, genericamente, as objectivas de menor distância focal (Ultra-grande-angulares) parecem ser mais vulneráveis a este fenómeno que as objectivas de distância focal "normal" ou de grande distância focal (Teleobjectivas).
Então, qual a razão deste fenómeno?
Duma maneira muito simples e básica, para entendermos "o porquê" devemos, antes de mais, saber que este fenómeno "Difracção" acontece sempre que a luz encontra uma barreira ou obstáculo.
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Ilustração: Artur Ferreira |
Como podem observar na ilustração, no caso da captação de luz com uma câmara (captação de fotografias), essa barreira é constituída pelas lâminas do diafragma. A luz que se dirige ao sensor é interpelada pelas lâminas que impedem, assim, que os diferentes comprimentos de onda que a compõem cheguem ao sensor ao mesmo tempo. Ou seja, as lâminas acabam por dispersar a luz que entra pela frente da objectiva.
Pensando na maneira como funciona o diafragma duma objectiva será simples imaginar o porquê da difracção afectar mais as imagens captadas com aberturas de f/22 do que, por exemplo a f/16 ou f/8. O orifício ou circulo formado pela utilização duma abertura de diafragma a f/22 é mais pequeno e impede mais a entrada de luz que a f/8! Por esse motivo, às ondas de luz primárias são adicionadas outras que, por não terem chegado de forma sincronizada, formaram uma imagem secundária - o efeito "borratado".
Este efeito (ou o seu grau de intensidade) depende também, ainda que de maneira menos notória, do tipo de sensor da câmara utilizada (densidade e número de píxeis para cada uma das cores primárias que possui) e pela relação "tamanho de sensor/quantidade de píxeis".
Portando, caso seja desnecessário, deve evitar-se "fechar o diafragma" em exagero! Aliás, os motivos justificativos para o uso de aberturas muito pequenas são (a meu ver) apenas dois:
- Necessidade de aumento do tempo de exposição (que também pode ser efectuado doutra forma - com os filtros de Densidade Neutra "ND") ou;
- Necessidade de aumento da profundidade de campo (apenas deve utilizar-se quando fotografamos objectos relativamente próximos. Este é um conceito que varia com a distância ao objecto mas, genericamente, para objectos distantes e com focagem ao infinito não existe necessidade de recorrer a aberturas de diafragma muito pequenas. No caso da Macrofotografia, nomeadamente com recurso a foles de extensão, este conceito é ainda mais importante! Nestes casos, uma vez que a luz que chega ao sensor é diminuída pela extensão do fole com o inerente aumento de valor f/stop, por vezes, a fim de evitar casos de difracção extrema, só podem utilizar aberturas intermédias!)
Exceptuando estes dois motivos, para não comprometerem uma melhor resolução e perda de detalhe de imagem, já percebem porque se deve evitar utilizar aberturas de diafragma (muito) pequenas!
Um último exemplo:
Um último exemplo: