Digiscoping vs fotografia tradicional




Há uns dias atrás, a pedido de um conhecido anilhador que desenvolve um trabalho de marcação de patos (através da colocação de marcas nasais), desloquei-me à Pateira da Reserva Natural das Dunas de S.Jacinto, onde o mesmo leva a efeito o mencionado estudo. O intuito era testar a possibilidade de usar a Nikkor 300mm 2.8 que possuo como parte de um conjunto objectiva/erector/binoviewer para observar aves, mais concretamente para testar a capacidade de ampliação daquele conjunto e verificar se o mesmo era suficiente para proceder à leitura das marcações nasais efectuadas nos patos a alguma distância.

Há hora combinada lá nos encontramos tendo-nos de seguida dirigido ao local onde iríamos efectuar os testes.

A escolha do local por parte do David Rodrigues (assim se chama o anilhador) foi acertada. Nada melhor que um sossegado abrigo de observação onde após descarregarmos toda a panóplia de material que cada um levou começamos a fazer os testes. Basicamente foram-se diversificando as combinações possíveis de equipamentos e fazendo as inevitáveis comparações.

Enquanto que o David Rodrigues tentava rentabilizar resultados para observação, tendo por base a minha Nikkor 300mm f/2.8, eu fui testando várias combinações possíveis de Digiscoping usando dois telescópios que ele tinha levado.

Além do Optolyth com o erector Nikon FSA-L2 testei ainda um telescópio próprio para astronomia de marca Celestron ED80/600 com uma roda de filtros barlow (modelo G) acoplada, feita em Portugal, cujos elementos ópticos são, contudo, produzidos pela Siebert nos USA. Com este conjunto consegui ampliações até cerca dos 1.800mm tendo obtido resultados surpreendentemente melhores que com o primeiro. De facto, desde que não se ultrapassasse a barreira dos 1.500mm de distância focal (a f/7,1) as imagens, além de mais recorte, tinham também mais contraste. O motivo porque digo “surpreendentemente” tem, também, a ver com as diferenças de preço entre as duas combinações. Ou seja, a mais barata (…. muito mais, pois o Celestron custa cerca de € 300,00/€ 400,00) foi aquela que conseguiu melhores resultados! Problema é que a tal roda de filtros de aumento usada para comutar entre várias distâncias focais não é regularmente vendida ao público. Mesmo assim sendo, comparativamente à tradicional fotografia com teleobjectivas (400/600mm), os resultados obtidos com este conjunto (Celestron/roda de filtros) são inferiores no que concerne à qualidade de imagem. As duas principais “perdas” reportam-se ao recorte e ao contraste.

Piores foram, porém, os resultados que o David obteve com a Nikkor 300mm 2.8. Na realidade, após testar variadíssimas combinações possíveis desde com um só ocular a acoplar-lhe dois diferentes binoviewers os resultados não foram satisfatórios. Além de haver uma grande perda de contaste (algo que de certa maneira poderia até ser irrelevante para o efeito pretendido) a focagem ficava limitada a um intervalo de distância pequeno não sendo possível a focagem além dos cerca de 12/15 metros até ao infinito.


Bom, mas é para isso mesmo que servem estes pequenos testes e experiências…!



Abaixo ficam algumas das fotografias captadas durante o dia (reportam-se a testes realizados unicamente com o intuito de apurar a qualidade de imagem do conjunto usado). Digiscoping, a cerca de 1500mm (as imagens incluem, mesmo assim, crop’s e pós-produção em CS4):




Como conclusão destes testes, diria que me agradaram no Digiscoping (com o equipamento testado):
  • A capacidade de aumento, a focagem (dada as distância focais usadas) e o preço do equipamento
Não gostei tanto:
  • Qualidade de imagem

2 comentários:

Pedro Pires disse...

É realmente surpreendente a qualidade do Celestron! Fui eu que emprestei o Celestron ao David e também já tinha andado com ele a testar as diferentes possibilidades com os diferentes telescópios possíveis. Não é logicamente uma lente fotográfica e a focagem é por vezes bem dificil por ser manual, contudo uma boa focagem e uma boa velocidade de obturação (sempre superior a 1/600) ficam fotografias muito boas! Também a possição do sol relativamente ao telescópio é um factor importante mas isso também acontece com as lentes fotográficas. Bom trabalho! Pedro pires

José Loureiro disse...

Pedro,
na realidade também fiquei surpreendido, quando o David me mencionou o preço aproximado do Celestron. Tendo em conta a relação preço/qualidade e comparativamente à outra combinação que na altura testei os resultados podem ser considerados bons pois foram bem melhores. Todavia, os que consegui, infelizmente, não me parecem ainda ser suficientemente bons para uma utilização das imagens para efeitos de impressão mesmo em tamanho pequeno. Existe um pouco de falta de contraste, a coloração não é a mais correcta e se reparar consegue visualizar ainda alguma aberração cromática. Claro que as imagens de exemplo têm crop’s, a cerca de 30/40% da imagem total mas em contrapartida têm também alguma recuperação de níveis em pós-produção (Photoshop CS4).
Quanto à velocidade de obturação, havendo um bom tripé e uma boa cabeça de tripé, como foi o caso (o teste foi efectuado no tripé e cabeça levados pelo David), é possível, na minha opinião, com os devidos cuidados usar velocidades de obturação bem mais baixas do que 1/600seg.
No conjunto testado a luz começa efectivamente a escassear mas, mesmo assim, sem subir o valor de sensibilidade ISO acima dos 200 foi possível fazer capturas a 1/60seg. a f/13. (com a Nikon D200 imponho a mim mesmo como limite máximo utilização, salvo raras excepções o valor de ISO 400/600 pois a partir daí temos também a introdução de algum, ruído de imagem no que toca à luminância).
Quanto à focagem, e claro que mais uma vez em termos comparativos, achei o processo bem mais fácil e preciso do que outras experiências que tenho feito com a Nikkor 300mm f/2.8 que também utilizamos neste teste quando lhe “adiciono” dois teleconversores de factor de ampliação de 2x cada transformando-a numa 1200mm a f/11.
Já agora, posso referir que também fiz, precisamente, a comparação entre o Celestron ED80/600 com a roda de filtros barlow acoplada e a Nikkor 300mm com os dois TC’s acima referidos. Os resultados foram idênticos em termos de qualidade de imagem entre ambos os conjuntos quanto ao recorte/nitidez existindo somente no caso da Nikkor uma menor tendência para aberração cromática e uma coloração mais correcta. Se fizer as contas ao preço dum conjunto duma objectiva 300mm f/2.8 (independentemente da marca) e dois TC’ comparativamente ao preço do Celestron isso é realmente fantástico!
De qualquer forma, é como refere…”não é logicamente uma lente fotográfica”…

Abraço e obrigado pelo comentário!